Cristianismo de mente vazia


O que Paulo escreveu acerca dos judeus não crentes de seu tempo poderia ser dito, creio, com respeito a alguns crentes de hoje:

Porque lhes dou testemunho de que eles têm zelo por Deus, porém não com entendimento.

Muitos têm zelo sem conhecimento, entusiasmo sem esclarecimento. Em outras palavras, são inteligentes, mas faltam-lhes orientação.

Que jamais o conhecimento sem zelo tome o lugar do zelo sem conhecimento! O propósito de Deus inclui os dois: o zelo dirigido pelo conhecimento, e o conhecimento inflamado pelo zelo.

Mordecai Richler, um comentarista canadense, foi muito claro a esse respeito: 

O que me faz ter medo com respeito a esta geração é o quanto ela se apóia na ignorância. Se o desconhecimento geral continuar a crescer, algum dia alguém se levantará de um povoado por aí dizendo Ter inventado… a roda.

Estas três ênfases – a de muitos católicos no ritual, a de radicais na ação social, e a de alguns pentecostais na experiência – são, até certo ponto, sintomas de uma só doença, o anti-intelectualismo. São válvulas de escape para fugir à responsabilidade, dada por Deus, do uso cristão de nossas mentes.

Anseio por “um” equilíbrio bíblico, evitando-se os extremos do fanatismo. Apressar-me-ei em dizer que o remédio para uma visão exagerada do intelecto não é nem depreciá-lo, nem negligenciá-lo, mas mantê-lo no lugar indicado por Deus, cumprindo o papel que ele lhe deu.

Livro: Crer é também pensar | John Stott.

Idolatria no meio gospel, é possível?

 


É possível haver idolatria no meio do povo de Deus? Infelizmente, sim — e ela não se apresenta como a maioria imagina. Talvez você pense: “Mas nas igrejas evangélicas não há imagens... então como pode haver idolatria?”. Para responder, começo com um episódio que vivi há alguns anos, ainda novo na fé, dentro de uma livraria de uma conhecida denominação.

Recém-convertido, apaixonado por louvar a Deus — dom que até hoje agradeço — fui até Ribeirão Preto comprar alguns playbacks originais (nada de pirataria, claro). A livraria, ligada a uma igreja, estava cheia. Enquanto muitos olhavam CDs, livros e materiais devocionais, fui direto para a seção de música. Escolhi meus CDs e fui ao caixa, mas o que aconteceu em seguida me chocou.

Era o horário do programa de rádio do líder da denominação. A atendente do caixa me pediu licença e, com uma expressão quase sagrada, disse: “Preciso ouvir o elilim (deusinho) falar.” Vi todos os funcionários abandonarem seus postos só para ouvir um homem... como se fosse o próprio Deus. Ali, percebi: a idolatria gospel existe — e tem nome, voz e microfone.

Foi meu primeiro contato com um tipo de idolatria que não se curva diante de imagens, mas diante de pessoas. Como vim de um contexto católico, onde a idolatria é visual e evidente, fiquei confuso. Com o tempo, entendi: o que vi era um retrato nítido de algo que muitos ignoram — a idolatria evangélica é real, silenciosa e devastadora.

Mas o que é, afinal, idolatria?

Segundo Claudionor de Andrade, é a adoração de ídolos — mas também é qualquer amor que suplanta o amor que se deve a Deus. A Bíblia de Almeida define como qualquer imagem adorada, mesmo que represente o Deus verdadeiro (Êx 20.3-6). Orlando Boyer vai além e diz: ídolo é tudo que se torna objeto de culto — seja coisa, pessoa ou até uma ideia.

No Antigo Testamento, a fé era altar e oração, não imagem. Deus fez questão de proibir qualquer forma que pudesse ser corrompida (Dt 4.12). Os profetas, como Ezequiel, ridicularizavam os ídolos chamando-os de “gilulim” — uma palavra rude que, segundo o léxico hebraico, remete a montes de excremento.

No Novo Testamento, a definição se amplia: idolatria não é só imagem, mas também cobiça (Cl 3.5), imoralidade (Gl 5.19-20), e qualquer coisa que roube nossa atenção de Deus (1Jo 5.21). Em suma: ídolo é tudo aquilo que exige lealdade no lugar d’Aquele que é o único digno (Is 42.8).

Você já se perguntou por que Deus não permitiu que ninguém soubesse onde Moisés foi sepultado? A Bíblia diz que o próprio Deus o enterrou (Dt 34.6), e Judas revela que houve até disputa espiritual pelo corpo dele (Jd 1.9). Por quê? MacArthur e Matthew Henry sugerem: Satanás queria transformar o corpo de Moisés em objeto de adoração. Deus, sabendo do perigo, escondeu o corpo para preservar o coração do povo.

A idolatria é sorrateira. E no episódio que testemunhei, vi com meus próprios olhos o povo se curvando, não diante de uma imagem, mas de um homem. E o mais trágico: mesmo após escândalos e contradições, ele ainda é reverenciado como um “semi-deus”. Isso não é caso isolado. Pastores, pregadores, cantores, mestres... todos sujeitos a serem idolatrados — ou a gostarem de sê-lo.

Hoje, a idolatria virou show. Igrejas pagam verdadeiras fortunas para ter seus “ídolos” no púlpito. Alguns exigem cachês como artistas. Desculpe, mas não consigo chamar isso de ministério. Isso é mercado. São mercadores da fé.

Cornélio se ajoelhou diante de Pedro, e Pedro o repreendeu: “Levanta-te, que eu também sou homem!” (At 10.26). Se Pedro vivesse hoje, talvez ficasse chocado com o tanto de “adoradores de celebridades gospel” que confundem carisma com unção.

Sinto ira (santa, que fique claro) ao ver cantores seculares vestidos de “gospel” em programas de TV, onde o evangelho não é pregado — mas onde os gritos histéricos de fãs substituem o culto. Ganham aplausos dos homens, mas não dos céus. Enquanto isso, os irmãos simples, que louvam com coração puro, são invisíveis na terra, mas conhecidos no céu.

As igrejas lotam para ouvir o “Fulano de Tal”, mas esvaziam nos cultos de ensino. Apóstolos modernos ensinam crentes a "brigar com Deus", como se isso fosse espiritualidade. Enquanto isso, o evangelho é vendido, e o povo se distrai com fumaça e luz.

Tomara que quando esses “elihim” morrerem, sejam cremados e suas cinzas lançadas ao vento. Pelo menos assim, não teremos relíquias para idolatrar.

Uma última pergunta: você viu o nome de Jesus nesse texto até agora? Não? Fiz de propósito. Quis mostrar como, quando o foco está no homem, Cristo some da cena. E é isso que tem acontecido. Os holofotes estão tão voltados para os “ídolos gospel” que já não sobra espaço para o verdadeiro Senhor.

Finalizo com João, simples e direto como sempre:

“Filhinhos, guardai-vos dos ídolos. Amém.” (1 João 5:21)

Deus não chama os capacitados, Deus chama os dispostos

Moisés e a Sarça

No livro do Êxodo 6.30, está escrito assim:

Então disse Moisés perante o Senhor: Eis que eu sou incircunciso de lábios; como, pois, Faraó me ouvirá?

Moisés e a Sarça

Você já se perguntou por que Deus precisava de um líder diferente de todos os que o mundo já tinha visto virando-se para o Moisés e o desafiando verbalmente? Talvez pensaríamos que Deus teria chamado alguém como um Martin Luther King, que poderia vir com um discurso apaixonado como “Eu tenho um sonho”. Ou poderia ter escolhido um espirituoso homem tipo Winston Churchill ou o carismático John Kennedy. Mas Deus voltou-se para o humilde e manso Moisés, que disse: “Uma vez que falo com vacilantes lábios, por que Faraó me ouvirá?”

Basicamente, Moisés estava dizendo: “Eu sou totalmente impróprio para esta tarefa! Me falta talento e habilidade para realizar a missão! Deus, porque me escolher?” No entanto, como tantas vezes acontece, é exatamente assim que Deus trabalha.

Pense nisso...

  • Deus escolheu Davi, um jovem pastor que era pequeno demais até mesmo vestir a armadura do rei Saul, para enfrentar o gigante Golias.
  • Deus escolheu José, o mais odiado dos seus irmãos, um escravo, e depois um preso, para se tornar o primeiro-ministro do Egito e fornecer sustento para toda a sua família.
  • Deus escolheu Jael, uma jovem mulher, para matar Sisera, poderoso guerreiro, quando todo o exército de Israel não tinha conseguido fazê-lo. 
  • Deus escolheu Ester, uma moça judia, órfão em exílio, para se tornar a rainha da Pérsia e salvar seu povo, Israel.

Deus muitas vezes escolhe pessoas que parecem os candidatos mais improváveis para preencher os papéis mais importantes. Ele faz isso porque Ele quer que saibamos que não são nossos talentos e habilidades que determinam os resultados, mas a Sua vontade e Seus milagres que trazem a salvação. Como lemos em Zacarias 4.6, “Não por força nem por violência, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos.

Em 1948, quando as Nações Unidas votaram o restabelecimento do Estado de Israel, um país incipiente, constituído no momento da maioria dos refugiados e sobreviventes do Holocausto, foi atacado por cinco exércitos árabes organizados. No entanto, Israel foi vitorioso. Israel, a moderna Davi, matou o Golias moderno. Israel conseguiu o que ninguém esperava. Todos previam um abate. Já estavam cavando os túmulos dos novos israelenses. Mas a vontade de Deus prevaleceu, Israel prevaleceu, e Israel continuará a prevalecer por conta da vontade de Deus.

Quero incentivar todos a não deixarem ser intimidados por uma tarefa que parece ser muito grande. Quando Deus chama para fazer algo, não olhe para o que lhe falta. Não se assuste com o que você “não pode” fazer. Através de Deus, podemos fazer tudo e sermos qualquer coisa.

Deus escolhe o disposto, não necessariamente o capaz. Ele escolheu e promoveu muitas pessoas imperfeitas no passado – e Ele pode nos escolher também.

 

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